
O impasse na instalação da CPI dos Combustíveis na Câmara Municipal de João Pessoa, marcado por disputas sobre presidência e relatorias, é mais um retrato da dificuldade do Legislativo em cumprir sua função de fiscalização de forma isenta. A comissão, criada para investigar supostos abusos no preço dos combustíveis na capital, já nasce fragilizada pela desconfiança de parcialidade e pelo jogo de poder entre parlamentares. O resultado é previsível: em vez de avançar sobre as causas reais que oneram o bolso do cidadão, a CPI corre o risco de se transformar em ringue político.
A questão dos combustíveis em João Pessoa é grave e recorrente. Os preços, frequentemente superiores aos praticados em estados vizinhos, levantam suspeitas de cartelização e falta de transparência na formação dos valores. A CPI, em tese, seria oportunidade para investigar irregularidades, propor mecanismos de regulação local e até pressionar órgãos federais a agir com mais rigor. Mas quando a disputa por cargos internos toma o protagonismo, o foco deixa de ser o consumidor e passa a ser a autopromoção de parlamentares.
O episódio mostra como parte da política local ainda trata instrumentos de fiscalização como moedas de troca de poder. Se a CPI não superar o impasse inicial e não conseguir se estruturar com independência, será apenas mais um exemplo de como o interesse público é atropelado pela vaidade e pela disputa política. O cidadão pessoense, que já paga caro por combustíveis, não pode ser condenado a assistir de camarote a mais uma encenação legislativa sem resultados concretos.
Da redação, Folha da Paraíba
Foto: Olenildo Nascimento