A MATERIALIDADE DO PERDÃO
A ex-esposa telefona para o ex-marido para informar que a filha deles naquele momento estava se submetendo a um procedimento cirúrgico denominado ablação, recomendado para o tratamento de algumas arritmias cardíacas. O estranho, e não foi surpresa para o rapaz, foi ela dizer que a filha não queria que ele soubesse de tal cirurgia.
Que a jovem havia se afastado do pai não era novidade para ele, pois ela tomara um partido desde o início da separação. Em um matrimônio desfeito não existe apenas um culpado. Ambos erram em maior ou menor proporção, obviamente. A diferença está em assumir cada um a sua quota nas culpas, deveres e omissões, parcelas estas que o rapaz admitira desde o início. Aliás, a atuação da ex-esposa nesse processo de divórcio fora intrigante, pois ela passara a agir deliberadamente para prejudicá-lo em várias formas. Seja financeira, emocional e até moralmente.
Mas o mais curioso foi o argumento da mãe, que contrariou o desejo da filha e ligou justificando que era direito do pai que ele soubesse da tal situação. E de quebra avisou-o para não aparecer para visitas no hospital alegando desconforto emocional na convalescente. Na verdade, ela quis causar esse desconforto nele. De um lado para que se preocupasse com a cirurgia e do outro por ter sido “proibido” de fazer uma visita.
No fundo ela realmente desejou desequilibrá-lo emocionalmente, pois sabia que o ex-marido tivera ataques de Síndrome do Pânico em um passado recente. Mas ele se tratara e, assim como a filha, sabia que tudo sairia bem e de acordo com a Vontade Divina.
O perdão não é para qualquer um e estamos longe da perfeição no tema proposto. Mas especificamente em todas as situações ele o fizera de forma plena e verdadeira com relação as duas, ex-esposa e filha. A benevolência, um dos caminhos sugeridos por Jesus para encaminhar-se ao reino do céus, passou desapercebido por ambas. Uma por ter difamado e tentado sem êxito prejudicá-lo materialmente e a outra por ter aceitado todo e qualquer argumento vindo da mãe, cuja verdadeira intenção teria sido angariar partidários sentimentais. E a filha seria uma das principais aliadas para justificar seus fins.
Ele assumira que na vigência do casamento prejudicara emocionalmente em alguns aspectos a ex-mulher. Pediu perdão e ele fora “externamente” aceito. Na verdade, o processo de desunião já estava em andamento onde ele seria parte do sistema para manter a imagem de família.
Por outro lado, jamais fizera algo que prejudicasse a filha. Foi pai quando precisou ser e esse deve ter sido seu maior erro. Em algumas situações a mãe esquivava-se de contrariar as vontades da filha, mesmo sendo necessário, e ele era o encarregado de tal tarefa. Então, para a criança em desenvolvimento. ele era o MAL e a mãe o BEM. Pagou o preço por este acerto cometido.
Na vigência das nossas curiosidades espirituais, Deus nos põe em situações adversas para que nosso aprimoramento se manifeste e deve-se agradecer rotineiramente até os infortúnios que surgem em nossas vidas, pois são eles instrumentos que nos farão evoluir rumo ao inevitável plano eterno.
Quanto ao perdão delas… Bem, de uma não se poderia esperar muita coisa, pois sua materialidade tem a religião como uma obrigação e não uma busca. Da outra? Como pai ele estará sempre por perto e esperando ainda estar se ela um dia conhecer o verdadeiro significado da palavra perdão.
Aliás, vale lembrar que a falta de perdão gera males.