CARTA AO PAPAI NOEL
Querido Papai Noel, tomei a liberdade de te enviar esta carta depois de tantos anos, afinal, já não sou mais criança. Por direito adquirido, imaginei ser justo pleitear alguns presentes, mesmo após mais de meio século de vida. Mas, o que são cinquenta e poucos anos de existência diante da eternidade, além da vida terrena que Deus nos presenteia diariamente?
O detalhe nestes meus pedidos é que nada quero pra mim. Depois de cinco décadas vendo de tudo um pouco e até mais do que o necessário, o que preciso nada mais seria do que suprimentos espirituais para vários seres ditos humanos que habitam este planeta.
Não é de hoje que os interesses materiais se sobrepõem à verdadeira natureza humana, que é encaminhar-se para a evolução. E o fato é que eles não desejam perceber isso e buscam exatamente o contrário. Vemos isso todos os dias nos laços de amizade que não existem mais, no culto à vaidade, na arrogância intransigente que habita o nosso cotidiano, nos pensamentos pessimistas daquele que preferem ver a banda passar em detrimento de atitudes construtivas que poderiam tomar. E muitas outras situações que em nada contribuem para o crescimento espiritual de cada um.
Papai Noel, óleo de peroba seria um presente muito bem vindo em pelo menos metade da população deste país. Aqui na terra de Cabrália a caridade passa longe da carência humana. Salvam-se algumas almas benfeitoras que o fazem sem precisar de publicidade.
Não caberiam no seu saco de presentes todos os antídotos para os males que muitos de nós terráqueos teimamos em cultivar. Sim, nós. Me incluo nesse conluio também, pois involuntariamente e em algumas ocasiões passa desapercebido os vários defeitos que trago comigo. Talvez até de vidas passadas, mas algumas adquiridas já aqui nessa existência.
Sentimentos cultivados de vingança, subserviência, intolerância, rancor, ostentação, orgulho, injustiça, impaciência, raiva e muitos outros adjetivos nefastos são reflexos naturais das consequências que a abstinência de amor fraternal nos induz. E esse caminho inóspito tem volta, mas a grande maioria prefere os deleites da matéria.
Finalizo, Papai Noel, com um pedido de desculpas colossal, pois em algum momento de minha vida deixei de acreditar que você realmente existia. Hoje o vejo como mais uma possibilidade diante da vontade divina de que um dia nós tenhamos conduta exemplar e merecedora de todas as benesses espirituais que o Criador nos oferece. Para isso teremos que fazer nossa parte.