
A exoneração de um assessor da Câmara Municipal de Campina Grande, após seu nome aparecer em uma lista do Ministério do Trabalho por envolvimento em condições análogas à escravidão, é mais do que um episódio isolado — é um retrato da negligência moral e política que permeia parte da administração pública brasileira. A nomeação de pessoas sem verificação mínima de histórico é um sintoma de um sistema que, muitas vezes, privilegia o compadrio e o apadrinhamento político em detrimento da ética e da idoneidade.
O fato de um servidor público ocupar cargo de confiança mesmo após condenações ou denúncias dessa gravidade revela o distanciamento entre discurso e prática. Enquanto gestores e parlamentares se apresentam como defensores da justiça social e da dignidade humana, a realidade mostra a fragilidade dos filtros institucionais e a falta de compromisso com princípios básicos da administração pública. Exonerar após a denúncia ganhar repercussão é fácil — o desafio é impedir que casos assim aconteçam.
Esse episódio deveria servir de ponto de inflexão para a Câmara de Campina Grande e outras instituições públicas do estado. É urgente criar mecanismos de verificação prévia de antecedentes e de transparência nas nomeações, especialmente em cargos de confiança. O poder público precisa entender que cada nomeação é também uma mensagem — e quando o Estado abriga em seus quadros quem violou direitos humanos, ele envia ao cidadão a pior de todas: a de que a moral é negociável.
Da redação, Folha da Paraíba
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