
A revelação recente do esquema de fraudes em concursos públicos que envolve membros de uma mesma família de Patos, no Sertão da Paraíba, escancara o quanto o Brasil ainda sofre com a fragilidade institucional nas bases de sua administração pública. A investigação da Polícia Federal aponta que gabaritos idênticos — inclusive com os mesmos erros — e aprovações suspeitas foram apenas a ponta de um iceberg que atravessa pelo menos uma década de atuação criminosa.
O caso reúne todos os elementos de uma rede sofisticada de fraude: chefia identificada, distribuição de funções dentro da própria família, uso de logística clandestina para repasse de questões e até suborno para manipulação de provas. O ex-policial militar Wanderlan Limeira de Sousa é apontado como o mentor principal do esquema, atuando junto a familiares e comparsas que teriam fraudado provas em diferentes estados. A atuação envolvia irmãos, cunhados e sobrinhos, formando um núcleo de confiança que operava com precisão cirúrgica — e, por anos, impunidade.
Embora a atuação da Justiça ao promover prisões e afastamentos preventivos seja necessária, ela chega como reação a um dano já cometido. O verdadeiro desafio político e institucional agora é reconstruir a confiança no sistema de concursos e garantir que as oportunidades no serviço público sejam de fato distribuídas por mérito, não por redes de corrupção. Reformar a legislação, fortalecer órgãos fiscalizadores, ampliar a transparência e adotar auditorias independentes não são apenas medidas administrativas — são atos de defesa da democracia e da dignidade do cidadão paraibano.
Da redação, Folha da Paraíba.
Foto: Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar da Paraíba. Reprodução