
A reunião entre o presidente Lula e o deputado paraibano Hugo Motta revela a encruzilhada em que se encontra a política nacional. De um lado, o avanço da pauta da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro pressiona o governo e o STF; de outro, a promessa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 surge como contraponto popular, capaz de reduzir tensões e dar ao Planalto um discurso de alívio fiscal. O encontro mostra como as negociações em Brasília misturam sobrevivência política com demandas sociais legítimas.
Ao buscar em Motta um aliado para conter a anistia, Lula joga pesado: o MDBista é peça-chave na Câmara e pode influenciar blocos estratégicos. Mas, ao mesmo tempo, atrelar essa pauta à aceleração da isenção do IR cria uma associação perigosa. O risco é transformar uma medida que deveria ser conquista histórica dos trabalhadores em moeda de troca para estancar um movimento que ameaça a estabilidade institucional. Isso reduz o debate sobre justiça fiscal a mero artifício político, esvaziando seu valor como política pública de longo prazo.
A Paraíba, por meio de Hugo Motta, ganha centralidade nesse tabuleiro, mas também assume responsabilidade. O desafio é saber se sua atuação será lembrada como a de quem ajudou a proteger a democracia e garantir alívio ao bolso do trabalhador, ou como a de mais um articulador que usou causas populares como escudo para barganhas políticas. O Brasil precisa de líderes que façam escolhas estruturais, e não apenas cálculos eleitorais. A reunião Lula-Motta pode marcar o início de um avanço histórico ou apenas mais um capítulo de pragmatismo político sem legado.
Da redação, Folha da Paraíba
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil