
O adiamento do julgamento da Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) de Cabedelo, após o relator apresentar suspeição, é mais um capítulo da longa novela de morosidade que marca parte da Justiça Eleitoral brasileira. A decisão empurra para 2026 um caso que já deveria estar resolvido há anos, perpetuando a sensação de que a lei eleitoral tem dois ritmos — um para os cidadãos comuns e outro para os agentes políticos.
A AIJE, que investiga supostas irregularidades nas eleições municipais, deveria ser tratada como prioridade, já que envolve a legitimidade do voto e a integridade das urnas. No entanto, a sucessão de incidentes processuais, como a suspeição do relator, gera atrasos que comprometem a credibilidade do sistema. Quando a Justiça demora a agir, a punição — se vier — perde efeito prático e se torna mero registro histórico. A morosidade é, na prática, uma forma sofisticada de absolvição.
O caso de Cabedelo simboliza um problema nacional: o tempo da Justiça Eleitoral raramente acompanha o tempo da política. Julgamentos que deveriam orientar o comportamento ético de gestores acabam sendo empurrados para o próximo ciclo eleitoral, permitindo que os mesmos atores continuem disputando cargos. Se o Estado quer preservar a confiança nas urnas, precisa fazer da celeridade um princípio — e não um favor. Justiça tardia, nesse contexto, é injustiça institucionalizada.
Da redação, Folha da Paraíba
Foto: TRE-PB