SÍNDROME
Lembro-me como se fosse hoje. Agora. Neste exato instante. Minha visão escureceu. Meu coração acelerou. Faltou ar. Nem conseguia articular direito as frases. Meu raciocínio foi ficando conturbado. Ali começava o primeiro dia do epílogo da minha vida. Não me lembro a data, mas recordo plenamente a época em que tudo começou a acontecer.
Acordei em meio a madrugada com uma dor no braço esquerdo e uma palpitação cardíaca. Achei que ia sofrer um infarto. Há menos de um ano perdera um tio em circunstâncias cardíacas similares e há muito histórico familiar nesta seara patológica. Em 1983 perdera um outro da mesma forma. Em ambos os casos fiquei muito abalado. O mais recente fora muito mais profundo, visto que eu convivera muito mais com ele do que com o outro tio. Desde aquela situação, quero crer que meus pensamentos começaram a mudar.
Entre junho de 2006 e abril de 2007 vivia minha rotina normalmente. Trabalho, família, lazer. Tudo na normalidade circunstancial. O perfeccionismo era o guia que ajudava no meu progresso profissional. Em fins de 2006 atingi metas antes inimagináveis no meu campo de trabalho. Ou seja, o que poderia estar errado?
Mas… alguma coisa estava errada.
Meu lado materialista, comum a todos nós, estava extremamente satisfeito com as aquisições antes utópicas. Era projeto antigo. Com muito sacrifício consegui alcançar esse ideal. Mas… minha forma detalhista de conduzir as situações e os serviços prestados estavam, à minha revelia, minando minha mente. Minando o meu espírito.
Ao procurar ajuda médica, foi diagnosticado algum tipo de transtorno de ansiedade. Tudo em mim funcionava bem. Meu corpo respondia muito bem a tudo. Eu tinha um coração de menino, segundo o cardiologista. O médico me aconselhou a excluir ou pelo menos diminuir a minha velocidade rotineira. Achei tudo uma bobagem. Para relaxar, à noite, após fechar o escritório, sentava com alguns amigos e tomava algumas doses de whisky. Assim findava o meu dia.
Após alguns meses me dei conta que, daquela forma, um dia eu poderia me tornar um alcoólatra. As crises ainda existiam, com menos frequência, mas com maior intensidade. Após o carnaval de 2008 resolvi novamente procurar ajuda médica e o diagnóstico, evidentemente, foi outro. O que antes era transtorno de ansiedade evoluíra para uma Síndrome do Pânico. Medicamentos e muita terapia da mente seriam então a minha rotina nos próximos meses. Resolvido a encarar de frente, enfrentei os meses de abstinência. Pensei ser muito jovem e um ano não seria muito tempo perdido. Foi nesta época que adentrei em um mundo que já me despertava muita curiosidade desde criança: O Espiritismo.
Até a data de então os livros de Allan Kardec me despertavam uma certa curiosidade, mas não tanta a ponto de eu abrir mão de algumas atividades para ler os livros ligados à doutrina espírita. Foi esse o ponto de partida: A síndrome do pânico. Através de amigos espíritas, fui buscando informações sobre tais conhecimentos que tanto me fascinavam. Lembro-me que, menino ainda, morava no Rio de Janeiro e gostava de ler uma coluna do Jornal O Dia onde eram relatados fatos sobrenaturais que aconteceram neste plano terreno. Minha teimosia infantil me fazia ler a tal coluna, mesmo sabendo que a noite, na escuridão do quarto e à espera do sono, as lembranças das histórias voltariam a minha mente já assustada.
Lembro-me também que vez por outra me pegava absorvido em pensamentos além da esfera terrestre:
– O que virá depois da morte ? – era uma pergunta constante que eu me fazia. Tudo isso antes de completar minha primeira década de vida.
Mas este tema fica pra outra crônica, pois na época resolvi cuidar do corpo e da mente, pra que minha alma tentasse evoluir neste plano.