
A decisão do Tribunal de Justiça da Paraíba de instaurar dois Procedimentos Administrativos Disciplinares contra o juiz Glauco Coutinho Marques, investigado pelo Gaeco na Operação Retomada, é um passo necessário, mas tardio. O caso, que envolve suspeitas de decisões judiciais usadas para favorecer advogados e entidades ligadas a aposentados e pensionistas, expõe um problema crônico: a dificuldade do próprio Judiciário em agir com rigor quando o acusado está sob sua toga. A reação só veio após o escândalo ganhar repercussão pública, revelando mais uma vez a resistência do sistema em se autoinvestigar.
As denúncias são graves — vão de relações pessoais e financeiras entre o magistrado e advogados beneficiados até possíveis prejuízos a idosos e pensionistas. Se confirmadas, configuram não apenas infrações funcionais, mas um atentado à confiança pública no sistema de justiça. O risco agora é que o processo disciplinar se transforme em mera formalidade corporativa, encerrando-se, como tantos outros, com a aposentadoria compulsória e salário integral. Essa prática, travestida de punição, tem sido a face mais visível da impunidade dentro do Poder Judiciário.
Mais do que apurar responsabilidades individuais, o episódio coloca o TJPB diante de um teste institucional. É preciso demonstrar à sociedade que a Justiça paraibana é capaz de julgar seus próprios membros com a mesma firmeza com que julga qualquer cidadão. O país já não aceita o silêncio nem a morosidade como resposta. Se o tribunal agir com transparência e coragem, reforçará sua autoridade moral. Se recuar, apenas confirmará o que muitos já suspeitam: que a Justiça brasileira ainda protege mais a toga do que o povo.
Da Redação, Folha da Paraíba
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